quinta-feira, 2 de agosto de 2007

O dia em que nasci moura e pereça...


Perante este soneto (um dos meus favoritos) apraz-me questionar o que se estaria a passar dentro da cabeça de Camões quando escreveu este poema fantástico! É sabido que as desventuras amorosas do "príncipe dos poetas" por vezes deram origem a obras poéticas verdadeiramente fascinantes... Terá sido este soneto fruto de alguma desilusão de amor do grande Luís Vaz de Camões? Isso não sabemos, o que é certo é que este é um dos seus inúmeros belíssimos poemas.

O dia em que nasci moura e pereça,
Não o queira jamais o tempo dar;
Não torne mais ao Mundo, e, se tornar,
Eclipse nesse passo o Sol padeça.

A luz lhe falte, O Sol se [lhe] escureça,
Mostre o Mundo sinais de se acabar,
Nasçam-lhe monstros, sangue chova o ar,
A mãe ao próprio filho não conheça.

As pessoas pasmadas, de ignorantes,
As lágrimas no rosto, a cor perdida,
Cuidem que o mundo já se destruiu.

Ó gente temerosa, não te espantes,
Que este dia deitou ao Mundo a vida
Mais desgraçada que jamais se viu!


Luís Vaz deCamões

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