domingo, 23 de setembro de 2007

Ode ao vinho de Pablo Neruda

Assinala-se hoje o 34º aniversário do desaparecimento de Neruda. A par desta data, quis também finalizar uma semana em que o Frequência Jovem relembrou um pouco da sua vida pessoal e poética de uma forma especial. A tarefa adivinhava-se difícil, uma vez que a sensação de que para homenagear Pablo Neruda nunca nada é suficientemente especial é quase inevitável (falo por mim, uma admiradora confessa de Pablo Neruda). Mesmo assim, resolvi acabar com uma Ode, afinal, não nos podemos referir a Pablo Neruda sem salientarmos as suas Odes tão singulares. Esta é dedicada ao vinho. Não uma das mais conhecidas mas, sem dúvida, uma das mais elegantes. Brindo-vos eu agora com a Ode ao Vinho de Pablo Neruda.



Vinho cor do dia
vinho cor da noite
vinho com pés púrpura
o sangue de topázio
vinho,
estrelado filho
da terra
vino, liso
como uma espada de ouro,
suave
como um desordenado veludo
vinho encaracolado
e suspenso,
amoroso, marinho
nunca coubeste em um copo,
em um canto, em um homem,
coral, gregário és,
e quando menos mútuo.



O vinho
move a primavera
cresce como uma planta de alegria
caem muros,
penhascos,
se fecham os abismos,
nasce o canto.
Oh tú, jarra de vinho, no deserto
com a saborosa que amo,
disse o velho poeta.
Que o cântaro do vinho
ao peso do amor some seu beijo.

Amo sobre uma mesa,
quando se fala,
à luz de uma garrafa
de inteligente vinho.
Que o bebam,
que recordem em cada
gota de ouro
ou copo de topázio
ou colher de púrpura
que trabalhou no outono
até encher de vinho as vasilhas
e aprenda o homem obscuro,
no ceremonial de seu negócio,
a recordar a terra e seus deveres,
a propagar o cântico do fruto.




Pablo Neruda

1 comentário:

Anónimo disse...

em memória de um grande escritor..